Um risco literário

Otto Maria Carpeaux | 1949

“Da literatura ninguém pode viver no Brasil, infelizmente. Citam-se as raríssimas exceções, um José Lins do Rego, um Érico Veríssimo. Sobre livros, então, todo mundo quer conversar, menos os editores — e então é preciso viver de outras coisas. Mas será que a atividade literária é uma profissão? A Literatura não é um ‘ramo’ como os outros; quando chega a sê-lo, deixa de ser literatura, produzindo então mercadorias em vez de obras. Dedicar-se à literatura não é uma decisão de ordem econômica: significa assumir um risco. A diferença reside nas preposições: não se pode viver ‘da’ literatura; mas pode-se viver ‘para’ a literatura. A distinção não é caso especificamente brasileiro. Os dois modos, ‘da’ e ‘para’, encontram-se em toda parte; em toda parte vivem alguns poucos da literatura e muitos outros, com ou sem vocação, para ela.”

— ‘Situação material do escritor’, 1949 (adaptado)